domingo, 3 de novembro de 2013

O jogo

Disse-te que escrevia no meu avião de papel. Que já tinha decidido há muito, afinal, o que pensava que iria descobrir. Tinhas razão

- Parece-me que o que estava escrito no avião de papel será algo que tu decidirás e não que descobrirás.

Sei que sim, sei que já descobri. Que muito pode ser uma vida ou uma hora. Ou um minuto. Penso que decidi num minuto ao perguntares

- O que escreverias?

E no entanto, tanto tempo para descobrir. Já me disseste que, uma vez tomada uma decisão

- quando tomo uma decisão

ages rapidamente, porque não há volta a dar

- não há nada a fazer, se tem que ser...

Está frio. Detesto o Inverno. E detesto domingos sem o mar. Tu sabes. Conheces-me de algum lado, não é?
Algures há uma pista aberta à espera de um avião de papel.

Ping Pong. Adoro mantas. Gosto das pernas

quatro

debaixo das mantas. Da distância das pernas. Do leve tocar. Falar sem quase olhar. Olhar e não estares a olhar. Imagino que estejas a olhar quando eu não. E sem dizer nada, as pernas:

- chega-te um pouco mais

os cotovelos:

- estou a incomodar? desculpa, chego-me para lá?

e os cotovelos

- não, estou bem. Aliás, deixa-te estar.

O silêncio é muito confortável quando as pernas e os cotovelos falam. É um jogo. Somos ambos ardilosos. Ou melhor, algumas partes do nosso corpo são

ardilosas

O avião de papel caiu e ficou por ler. Ou ficou alguma coisa por escrever?

- O que escreverias?

Escreveria que detesto o Inverno, mas adoro as mantas e as pernas

quatro

debaixo das mantas.

Ping.

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