segunda-feira, 15 de maio de 2023

Deixemo-nos de merdas, amor

 Deixemo-nos de merdas, amor.


Vamos acabar o que

não começámos 

na poeira da ilusão 

nos sentidos tão despertos

e na inteligência tão em falta. 


Vamos fechar o livro que 

nunca abrimos

na pressa de chegar

a lado nenhum

história sem princípio

sem fim


virar as páginas que 

não chegámos a ler

inexistentes

afinal

folhas em branco 

onde nunca nada

será escrito por nós

nem para nós. 


Perdemo-nos, amor, 

antes de nos termos encontrado

numa noite que 

dura há tantas manhãs 

como as que não viveremos 

os dois. 

 

Deixemo-nos de merdas, amor. 

Vês, ainda te chamo amor 

amor amor amor

Sempre que quiser vou 

dizer a palavra amor

com o teu nome 

na minha boca 

o gosto a saliva que não pude

não deixaste 

que eu sentisse 


Deixemo-nos de merdas,

amor. 


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